Porque é aqui que há de nascer
e gerar frutos a minha e a sua eterna
ignorância. Aqui que há de encontrar a
vitalidade e o sustento máximo para a
sua loucura. Aqui vive, agoniza, mas não
morre o nosso egoísmo e a nossa faceta
que imprime necessidades.
Três vivas e saudações ao seu umbigo.

domingo, agosto 12, 2007


De onde vem

Pegou-me no colo. Acalmou-me e por fim, perguntou-me o que faltava ou o que tanto me fazia chorar.
Eu disse “um alguém a me cuidar”.
O anjo absolutamente surpreso e inconformado questionou-me porquê gostaria de mais um alguém se havia tantos outros anjos dispostos a me cuidar.
Expliquei que queria alguém de sangue e cheiro. De carne e presença.
O anjo pensou e tentou por vezes me convencer que eu não seria sozinha. Onde fosse seria guiada por todos.
Mas nada adiantou.
Não dei ouvido. Não sussurrei insistência. Não choraminguei permissão.
Não calei nenhum sentimento. Não escondi meu medo e esclareci.
“Quero um alguém de peito aberto, de coragem, de honra e forte. Absolutamente forte. Quero um que me pegue pela mão e que me dê colo. Um que me possa confortar. Que tenha nos olhos a vida vencida e nas mãos a garra que lhe cobrarem. Deve ter ombros fortes para me ajudar na carga da vida e um coração mole a me guiar nas razões. Quero um alguém de presença e lembrança. De contato e concreto”.
Mas ninguém respondeu. Ninguém se disponibilizou.
Ouvi o silêncio mais angustiado de todo o céu. Vi os olhos mais preocupados e as mãos mais inquietas. Tinha o ar um cheiro de incerteza e dúvida.
Ninguém se habilitou.
Por outra vez, o meu mesmo discurso e por outras tantas ninguém me indicava solução.
E assim foram mais cem vidas e eu não vi vida.
Até que num tempo, o Deus me chamou. Em repetição, indicava a minha hora de ter vida e como birra e teimosia eu dizia “Sozinha, nunca. Sozinha, não”.
No entanto, para minha surpresa ou simplesmente para calar minha inquietude, ele respondeu “Sozinha não, menina. Fala-me mesmo do teu discurso e penso no alguém a te criar”.
Eu repetia e a cada texto, a cada frase formada, tinha uma visualização tão perfeita e tão real, que o anjo imaginado parecia brotar dia a dia dos meus sonhos. Parecia nascer pouco a pouco do meu desejo.
Da conversa com o Deus foram outras incontáveis vidas até eu me sentir num colo. Indefesa, incompreendida, mas protegida.
Pequena. E tão pequena.
Num colo aconchegante, inexperiente e por muito, desajeitado. Ansioso e absolutamente falante. Ah... Como falava. Como me contava histórias e melodias. Como me cuidava, esse colo.
E pouco a pouco eu ia aprendendo da face. Reconhecendo cada linha e buscando em mim todo o detalhe.
E sim. Era o meu anjo.
O meu tão almejado anjo. De cheiro. De carne e de vida.
Da vida que então agora eu tinha. E que ele também vivia.
E o Deus, num dos meus sonhos balbuciou “Chama-o de pai”.
E assim foi.

Sê para sempre aquele que me pega pela mão e sabe me conduzir.
Meu amor. Meu maior e eterno amor.
Todos os meus dias, são os seus dias, papai.
Feliz. Sempre.



amo você.