Porque é aqui que há de nascer
e gerar frutos a minha e a sua eterna
ignorância. Aqui que há de encontrar a
vitalidade e o sustento máximo para a
sua loucura. Aqui vive, agoniza, mas não
morre o nosso egoísmo e a nossa faceta
que imprime necessidades.
Três vivas e saudações ao seu umbigo.

segunda-feira, agosto 23, 2004


Ao Camarada leitor

Volta no meu indicativo interesse sobre o filme-livro Olga, e agora deixa-me falar.
O livro, como já vira elogios rasgados ao jornalista, camarada, ainda merece meu delicado gesto de admiração. O filme, como todo o esperado, é curioso, dramático, imaginário e decepcionante. Diria que é mais uma novela, com todo o direito de músicas emocionantes, de planos fechados e superproduções no sexo.
O casal romântico que no livro vive um romance como consequência da convivência obrigada, no filme, chega a causar desespero e sede de tanto melasso.
De fato, o diretor de Terra Nostra e A Casa das Sete Mulheres acreditou novamente no lado sentimental e vendável de mais um casal separado pela crueldade sem medidas do nazismo alemão e deu à história política o foco principal do romancezinho.
Olga passou de militante para sonhadora utópica num passar de cento e quarenta minutos. Prestes passou de militar para inexperiente e frágil, e nosso conhecido Vargas tornou-se o Hitler brasileiro bem pouco populista.
Difícil avaliar o dramalhão mexicano nas suas passagens históricas, mas méritos cabíveis e necessários são os da produção responsável pela fotografia e pelo cenário que trouxe boas e marcantes cenas de uma Europa de 1943 a um Rio de Janeiro bem atualizado.
Camila Morgado e seus belos cabelos escuros inicia as gravações quase tão incapaz como uma iniciante, ditando textos e decorando gestos. No entanto, curiosamente, assim como perde suas medeixas, gradativamente vai abandonando o vício global e fazendo juras de ser a melhor atriz brasileira jovenzinha. De certo a Montenegro chamou a aprendiz num canto e soltou um "tá querendo nos quebrar?" em bom tom.
Eu só queria saber se a menininha que faz uma das fases de Anita é a Arosinho do 21. Moço, é tão adestrada e assustadora quanto.
Vale à pena assistir, camarada, engole as falhas, fecha os olhos para os closes e vê que do meio para o final, o filme carrega uma emocionante desenvoltura quase tão envolvente como uma holywoodiana.