
E fui lá.
Contei os dias na mãozinha para vê-los. Contei os dias na outra mãozinha para ver o meu ex-barbudo preferido.
E vamos lá.
Certamente Los Hermanos abririam o show para os Paralamos do Sucesso, porque as pessoinhas gostam muito mais do segundo.
Mas até aí eu estava bem feliz e saltitante, cantarolava "veja você, onde é que o barco foi desaguar..." e assoviava "de onde vem a calma..." enquanto o propagandista jogava camisetas e adesivos e bonés e chaveiros...
Até quando eu ouvi: "E vamos chamar Los Hermanoooooss"
"É agora, é agora. Ê! Ê! É agora! É agora"
E nada.
E nada.
E nada.
E de repente eu escuto uma massa cinzenta e pesada atrás de mim se esmurrando e gritando: "Charlie Brown! Charlie Brown!"
Olhava pra frente e "Charlie Brown! Charlie Brown!" , olhava pra trás e "Charlie Brown! Charlie Brown!" e do lado e do outro lado e em cima "Charlie Brown! Charlie Brown!" até que meus guris apareceram...
Apareceram listados e tímidos. Bem tímidos e entimidados pelos nossos educados sorocabanos que depois de chamar o amigo do Snoopy chamavam Camelo de filho da mãe mundana.
Ah Sorocaba gentil!
Via-se um e dois de calças listadas, tênis e óculos diferenciados cantarolando as músicas. Um e dois tanto feliz quando Amarante cantava e o Marcelo tocava.
Um em mil torciam para tocarem
Moça e mil em mil esperavam só a
Ana Júlia.(é com dois n assim "nn" ou com um só, como eu escrevi?)
Mas os pequeninos indies estavam lá , sperançosos. E eu.
E quando eu já estava mais aconchegada e dando passinhos sutis à frente, com o intuito de chegar mais pertinho do meninos, quando eu já rebolava e soltava os cabelos cá e lá como um "I love you, babe", eu ouço meio calado um "Boa noite. Valeu"
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e foram.
E sairam correndinho pela lateral. Sem voltar. Se dar mais um sinalzinho. Sem bis.
Um muito tempo depois vieram os ex-Paralamas, muito bem recebidos, muito luminosos e com uma produção mega mais legal que a anterior.
E cantaram. E cantaram. E cantaram muito, e o vocalista nos comunicou sobre a importância da cadeira de rodas.
E cantaram.
E cadeira de rodas.
"Bacana. Ele usa uma"
E cantaram mais e mais e mais até sumirem.
E voltarem, sem bis. Mas com um tris elevado a décima nona casa e um milhão de músicas bem antigas, de quando eram bem mais Paralamas. E foram embora.
E voltaram mais velozes, capazes e alegres. Voltaram com um discurso mais longo de como manejar uma cadeira de rodas...
Cantaram até eu pedir a hora de dar tchau, até eu não aguentar tanta luz e discurso de como limpar a sua cadeira de rodas...
De como ser gentil com quem usa uma cadeira de rodas,
de como ser bacana com quem usa uma cadeira de rodas,
de como cuidar de quem usa uma cadeira de rodas,
"Valeu Sorocaba"
"Êê! Êê! Cabou! Cabou! Todo mundo, vambora!"
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...A Brasileira tá falando alemão...
"Ah não. Ah não."
... A italiana cozinhando feijão...
"Ah não. Não. Não. Não."
... não sei quem se encantou com o Pelé
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E depois de muito,
muito,
mas muito pedir,
eles me deram tchau, sem tris.