Porque é aqui que há de nascer
e gerar frutos a minha e a sua eterna
ignorância. Aqui que há de encontrar a
vitalidade e o sustento máximo para a
sua loucura. Aqui vive, agoniza, mas não
morre o nosso egoísmo e a nossa faceta
que imprime necessidades.
Três vivas e saudações ao seu umbigo.

sexta-feira, junho 20, 2008


Das minhas

Acho que é de desencontro.
De quem arranha e não marca, de quem assume e não fala, de quem assombra e não cala.
A minha vida, eu acho que é de caminho contrário.
Minha ida faz-se volta e minha volta é só escala.
Eu não paro.
De caso em caso, vida a vida, eu fujo. E disparo.
Como se isso me jogasse a diante, como se cada passo me cegasse, eu caminho, mas é contrário.
Fez-se uma sinfonia errante e uma serenata manchada. Faz-se um conto marcante e uma prosa pintada.
Mas não paro.
E no final das contas são lembranças.
Como se um tanto delas me deixasse a vida e outro tanto um impulso corajoso que me convence a tentar. E testar.
Os desencontros que me cortam
Os desencontros que me tentam
Os desencontros que me pecam
Mas não param.


sexta-feira, junho 06, 2008


sem nome

Um canto pouco.
um canto solto, um riso solto, um riso pouco.
Um grito rouco.
um grito louco, um canto pouco, um grito solto.
E de mim uma ternura mórbida.
Uma saudade esquecida em algum lugar da mentira.
Uma saudade doída duma vida largada, tingida e surrada. Uma saudade miúda.
De gente miúda de sonho miúdo de mundo miúdo.
Duma história que eu mesma criei. Eu mesma escrevi e até sustentei.
é que vem o canto, o riso, o grito.
O pranto.
O punhado de coisas mal resolvidas e das minhas histórias paradas.
das minhas mentiras criadas.
dela mesma inventada.


É ela mesma, A inventada.


sexta-feira, abril 25, 2008


Pontuou

Era pra dizer que acabou. Ou que tinha acabado.
E toda aquela pilha, era pra dizer que não havia mais nada.
Ou nenhuma palavra cantando. E nenhuma mais flutuando.
Foi como risco em meio tanta parede lustrada. Sobressaiu. Soluçou.
E não adiantou em maiúscula. Não adiantou quase nada.
Mas era pra dizer que acabou.
Era pra noutro canto, achar outra vida. Noutro canto, solucionar outras idas.
E que acabou.
De prato novo, era pra saborear outro gosto.
E de outro gosto, era pra extrair arrepio.
E de arrepio. O meu riso.
Ah o meu riso que há muito me é raro.
O meu riso que se esqueceu como gargalha.
Mostra os dentes, franze os olhos e se contenta de migalha.Um sangue grosso e quase entupido.
Meloso e pouco vencido.
Diz que era pra ser dito.
Que acabou.
Mas não disse mais nada.


domingo, agosto 12, 2007


De onde vem

Pegou-me no colo. Acalmou-me e por fim, perguntou-me o que faltava ou o que tanto me fazia chorar.
Eu disse “um alguém a me cuidar”.
O anjo absolutamente surpreso e inconformado questionou-me porquê gostaria de mais um alguém se havia tantos outros anjos dispostos a me cuidar.
Expliquei que queria alguém de sangue e cheiro. De carne e presença.
O anjo pensou e tentou por vezes me convencer que eu não seria sozinha. Onde fosse seria guiada por todos.
Mas nada adiantou.
Não dei ouvido. Não sussurrei insistência. Não choraminguei permissão.
Não calei nenhum sentimento. Não escondi meu medo e esclareci.
“Quero um alguém de peito aberto, de coragem, de honra e forte. Absolutamente forte. Quero um que me pegue pela mão e que me dê colo. Um que me possa confortar. Que tenha nos olhos a vida vencida e nas mãos a garra que lhe cobrarem. Deve ter ombros fortes para me ajudar na carga da vida e um coração mole a me guiar nas razões. Quero um alguém de presença e lembrança. De contato e concreto”.
Mas ninguém respondeu. Ninguém se disponibilizou.
Ouvi o silêncio mais angustiado de todo o céu. Vi os olhos mais preocupados e as mãos mais inquietas. Tinha o ar um cheiro de incerteza e dúvida.
Ninguém se habilitou.
Por outra vez, o meu mesmo discurso e por outras tantas ninguém me indicava solução.
E assim foram mais cem vidas e eu não vi vida.
Até que num tempo, o Deus me chamou. Em repetição, indicava a minha hora de ter vida e como birra e teimosia eu dizia “Sozinha, nunca. Sozinha, não”.
No entanto, para minha surpresa ou simplesmente para calar minha inquietude, ele respondeu “Sozinha não, menina. Fala-me mesmo do teu discurso e penso no alguém a te criar”.
Eu repetia e a cada texto, a cada frase formada, tinha uma visualização tão perfeita e tão real, que o anjo imaginado parecia brotar dia a dia dos meus sonhos. Parecia nascer pouco a pouco do meu desejo.
Da conversa com o Deus foram outras incontáveis vidas até eu me sentir num colo. Indefesa, incompreendida, mas protegida.
Pequena. E tão pequena.
Num colo aconchegante, inexperiente e por muito, desajeitado. Ansioso e absolutamente falante. Ah... Como falava. Como me contava histórias e melodias. Como me cuidava, esse colo.
E pouco a pouco eu ia aprendendo da face. Reconhecendo cada linha e buscando em mim todo o detalhe.
E sim. Era o meu anjo.
O meu tão almejado anjo. De cheiro. De carne e de vida.
Da vida que então agora eu tinha. E que ele também vivia.
E o Deus, num dos meus sonhos balbuciou “Chama-o de pai”.
E assim foi.

Sê para sempre aquele que me pega pela mão e sabe me conduzir.
Meu amor. Meu maior e eterno amor.
Todos os meus dias, são os seus dias, papai.
Feliz. Sempre.



amo você.


quarta-feira, junho 27, 2007


Para a torre

Sou dessas que quando diz que está brava ninguém fica perto.
Dessas que chora quando perde a capacidade de articular qualquer argumento de tanto nervosismo que brota dos olhos.
É como se cada palavra minha se derretesse nessa ebulição do meu cérebro, e virasse água.
Sou dessas que não sabe ter palavra doce. E vive com meia dúzia de pedregulho nas mãos.
Dessa que não sabe da vida e de mais nada.
E de mais nada, sei nada de simplicidade.
Sei confundir minhas mágoas e transmitir a elas a grandiosidade vital para manterem a caracterísitica elementar da minha vida.
Como eu sei ser assim.
É como se eu permitisse escorrer o mel e gostasse bem mais das abelhas.
E então eu não sei viver contigo.
E não sei viver com quem gosto.
Soube como ninguém juntar as minhas linhas mal escritas e contar um texto tão doído. Tão machucado e ressentido.
Foi para contar a nossa história, moreno, que escrevi tanto. E tanto.
E não concluí.
Só molhei as folhas.
Manchei as folhas.
Pintei de fel.
E rasguei de vez.
Um amor que talvez fosse mesmo
de papel




eu te amo.


quinta-feira, maio 17, 2007


Encomenda

E de repente alguém vai dizer que aqui é o fim da linha.
Vai dizer pra não dar um passo adiante. Tampouco dois para trás.
Deve dizer um “continue andando” de doer na alma.
Vai dizer que o que tinha de fazer, feito está. E um “não olha para trás” deve fechar tudo.
E deve ser quando a vida acaba.
Um alguém deve vir te avisar disso. Num dia ou noutro tudo pode ser confuso e muito distante. Muito conciso. Muito excitante.
E diz que o que você viveu passa feito filme, com você na primeira fila, de convidado de honra, assistindo a tudo que deveria ter feito; tudo o que se orgulha e tudo o que pode te fazer fechar os olhos e tapar os ouvidos.
Começa na barriga da mãe, nas primeiras manhas, nas primeiras palavras, nos primeiros arranhões, nos amores maiores e nas decepções.
Deve mostrar o primeiro beijo. O primeiro sexo.
Deve mostrar as verdades e todo o crescimento que vez e outra a vida lhe impôs e você não aderiu. Devem ter horas das vezes em que você chorou. Horas das vezes em que se preocupou e de nada isso adiantou.
Devem ser muitos os nós que você chamava insolúveis que foram desatados quando simplesmente você soltou os fios.
Deve ter o dia em que decidiu se jogar na vida. Ou de repente jogar fora a vida.
Devem ser muitas as vezes em que se descartou um dia lindo. Em que perdeu de ver o sol nascer. Ou ele se pôr. Ou tomar banho de chuva. Ou ver um arco-íris. E desenhar com as nuvens.
Devem ter brigas e incontestáveis sentimentos errôneos nas entrelinhas.
Há de ter teus sonhos realizados e as promessas de conseguir outras vitórias a mais.
Devem ter vezes em que calou um sentimento. E outras em que escancarou e se arrependeu. Ou se confundiu. Ou nem se lembra mais.
E quantas vezes você deixou de se olhar no espelho. Odiou sua forma física e fez disso o seu humor cotidiano. Você soube sem dúvida, como declarar guerra a si próprio sem permitir o direito da trégua. Bem pouco a paz.
Três ou quatro partes hão de mostrar como você não sabia do tempo. Entendia de pressa e hoje almeja o atraso.
Como custou aos teus braços a desaprender do abraço. E tão mais deve ter doído para reaprender do amasso.
Deve ter a hora em que você faz um balanço de si mesmo. Você pode se orgulhar disso.
Você pode se arrepender de ter sequer parado pra pensar.
E engraçado vai ser quando assistir aos teus deslizes. Às tuas promessas não cumpridas. Às tuas justificativas que até teu cachorro desconfiava. À pequenez das tuas mentiras e sem sombra de dúvida, à grandiosidade áurea da tua humildade.
Os teus filhos e se nessa história alguém soube ser generoso, você deve ter tido uma porção de netos.
Até aparecer você. Na primeira fila. Como convidado de honra. E as letrinhas.
Você deve ser convidado a sair. E devem te colocar pra andar numa estrada estreita. Com uma meia dúzia de pedregulho. Um tanto agradável. Um tanto florida. Ensolarada e creio eu longa o suficiente para te ensinar uma única vez o que é que não tem fim.



E pra matar as saudades

De tanto tempo. De tanta ausência. De tanta distância. De tanta carência.
Again.
Nós dois.
O primeiro é dele. O menino Breno.



Eu sou o meu inimigo


Branco, alto, loiro, barriga próspera, bem educado, ensino superior,
poliglota, quando nao era estudante e ainda tinha grana dos meus pais
tambem comprava roupa cara e bebia whiskey à 15 reais o copo.
Nao importa que eu gastasse a maior parte da grana em disco e livros,
eu era um burgues, sem duvida, e sou.
Sou meu inimigo.
E nao posso me esconder por que alem disso sou homem, heterossexual e
bonito. Nao faco parte de nenhuma minoria. Todas as partes do meu
corpo estao no lugar e funcionam, nenhuma doenca venerea, nenhum
problema congenito, nenhuma marca de espinha, sarampo, rubeola,
catapora, caxumba. Nao tive paralisia infantil, nao fui subnutrido.
Nao fui espancado, molestado ou violentado.
Nao tive pai alcoolatra, nem mae puta.
Nao comi pao com bosta, mas, verdade seja dita, comi caviar com gosto.
Com 5 anos eu já sabia ler e escrever e nao minto que sempre me gabei
da extravagancia que é ser inteligente.
Eu sou meu inimigo.
Nao posso me esconder atras de nenhuma minoria, nenhuma serve e a
carapuca se nao é larga é apertada.
Se vejo um pobre preto atravessando a rua na minha direcao as 10 da
noite na praca da Sé, claro, mudo de lado, escondo a carteira, fico
com medo... e por que nao dizer, com culpa.
Eu nao sou ele, nunca fui, nunca roubei ninguem, nunca matei ninguem,
nunca briguei por comida, nunca passei 24 horas sem enfiar nada no
estomago, nunca passei uma semana sem tomar banho, nunca fiquei um ano
sem cortar o cabelo, nunca fiquei um mes se contar as unhas.
Sempre tive dinheiro pra comprar perfume.
Eu sou o meu inimigo, e deveria ser o inimigo publico numero um.
Nao porque eu jah tenha roubado chocolate suico no supermercado, mas
porque eu sou eu, e nao posso fazer nada contra isso... e nem quero.
Nao digo que se eu fosse uma negra lesbica ana e cega nascida no
interior do maranhao e emigrada em pau de arara nos anos 40 as coisas
seriam mais faceis, nao seriam, mas eu poderia esconder todos os meus
problemas (e nao sem razao) atras das 300 minorias das quais fizesse
parte.
E ai talvez eu fosse alguem mais interessante para o mundo.
E nao o meu inimigo.
Eu nao sei dancar Samba, nao sei cantar RAP, nao sei tocar cavaquinho.
Nao gosto de pagode, nem de funk e nem de grandes demonstracoes de
cultura popular, mas nao escondo que acho Racionais um puta som – mas
eles nao falam pra mim, alias, muito pelo contrario, eles falam contra
mim.
Eu sou o inimigo dos Racionais, e de todos os fas dos Racionais.
Nao torco para o Corinthians, nem para o Flamengo e até diria que
torco para o Sao Paulo, time de burgues, mas na verdade nao acompanho
nem Copa Libertadores, quando muito final de mundial e ainda assim sem
entender muita coisa, pra ser sincero, nao gosto de futebol.
Nao gosto de futebol e nao sei chutar uma bola sem me machucar,
machucar alguem ou ser expulso de campo por falta de habilidade.
Entao eu paro e penso: o que eu posso fazer pelo meu mundo hoje?
Tomando uma Coca-Cola, de frente para o meu lap-top de ultima geracao
chego à brilhante conclusao que o melhor que fiz na vida foi estudar
literatura. Que belo modo de mudar as coisas.
De repente a verdade é que eu nao quero mudar o mundo e nao quero que
as coisas mudem por que minha posicao é muito confortavel, muito
gostosa.
Por essa razao, eu sou meu inimigo.
Aí eu posso dizer que é errado discriminar alguem por ser mulher,
preto, pobre, crente, puta, anao, lesbica, viado, judeu ou qualquer
minoria, e claro, sair até bonito no fim da história.
Mas vou contiuar rico, branco e poliglota.
Vou continuar sendo meu inimigo.


quinta-feira, março 29, 2007


Redondo

Eu sei que daqui um tempo você vai desandar.
Correr em círculos, chorar e chorar e chorar.
Sei que vai fazer falta e mais que tudo vai deixar brotar em mim um quê de “eu quis”.
E de querer em querer sabe deus o quanto eu fiz.
Fala alto, cutuca minha raiva, me amolece e me faz sozinha.
Tão sozinha e tão sozinha.
Deixa miúda a dor que sinto e ainda assim me faz odiar.
Eu sei que daqui um tempo você pára de andar.
Volta pra mim e me faz gargalhar.
Sei que vai marcar presença e mais que nada deixar morrer o meu remorso de “eu fiz”.
E de fazer em fazer sabe o diabo que eu nada quis.
Cala o peito, amortece minha alma, me atordoa e me faz companhia.
Tanta companhia que não sei mais se a mim é mania.
Escancara o que ri de mim e ainda assim me ensina te amar.
E continua.
e continua.