sábado, setembro 11, 2004
Prenda minha
O curioso é que a minha dor de parto não passa.
E o meu filho quase nunca nasce.
Graças a Deus. Graças a Deus ele vive em mim.
Ainda me faz suar e ainda me causa disparos quase que contínuos no meu coração.
Vez e outras meu bebê quase me abandonou, mas uma só, inesquecível uma só, fez as malas, me esperou na porta para dizer adeus e quase se foi, quase
Uma só vez, me aprontou destas, o maroto.
Uma só inesquecível.
E tão dolorida.
Mas o curisoso, moço, é que a dor não passa e sou tão feliz por isso.
Tão feliz por sentir que brota em mim, sangrento, gosmento, sujo e açucarado, o mesmo bebê que eu sempre carreguei nas entranhas. O mesmo bebê que fez as
malas, que ameaçou aborto e é carente de dentes... Ah, se soubesses como sou feliz por te ter comigo, fruto nosso...
Se soubesses que vez que me assustou sangrar e sumir derrubei tantas lágrimas, minha sementinha.
Se soubesses como foi dolorido quando me ameaçou ameaçar.
Delicioso é sentir que fora me dado como presente, denunciado como dádiva e abençoado pelas mãos mais santas e feitoras de toda essa imensidão azul. Certamente eu por mim creio que pouco te mereço, mas é de absoluta gratidão que sinto por ter sido eu apontada como capaz de cuidar-te.
Ah meu pequenino, cresces como o mundo gira e amadurece com o mesmo sabor da fruta minha preferida.
Sacia meus insanos desejos e acalma os meus mais humanos medos de vida.
Congela meu pesadelo e prolonga da maneira mais sutil e sublime o meu sonho preferido.
Ah papai do céu, que fiz eu pra merecer tanto?
Desacreditada e absolutamente a favor de arrancarem do útero o indesejado, eu hoje sou quase mãe. Crente, melosa e absolutamente romântica.
Romântica do tipo que é feliz por comer damascos e tão triste de ausência, tão deprimida de saudade.
Sou quase tão feliz com ele, que pouco sei do meu resultado quando nos separarem.
Mas até lá, que seja gritado o calado e escancarado o que diversas vezes me esconderam.
Sou amante, amo e deixa-me amar.
Que esse sentimento, essa semente, esse bebê ou fruto, que comparo com o que sinto por meu bem, seja fortificado. Que eu seja quase grávida e quase mãe, pois só assim eu aprendi um lado diferente da felicidade.
Lembra, meu bem, que ainda quando for embora, nosso fruto há de permanecer em mim, dormente, capsulado e esperançoso do reencontro. Nosso bebê há de ficar bonzinho e esperar pelo dia da tua volta.
Ama-me.
Ama-me prenda minha.
E deixa-se ser por quase o sempre todo e por todo o sempre nosso o meu namorado.
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