Porque é aqui que há de nascer
e gerar frutos a minha e a sua eterna
ignorância. Aqui que há de encontrar a
vitalidade e o sustento máximo para a
sua loucura. Aqui vive, agoniza, mas não
morre o nosso egoísmo e a nossa faceta
que imprime necessidades.
Três vivas e saudações ao seu umbigo.

quarta-feira, março 08, 2006

Essa é minha primeira aparição aqui no Seu Umbigo e resolvi falar de uma coisa especial, que todo mundo sente, todo mundo entende e que todo mundo vela. Mas não vou ainda dizer o que é, primeiro vou lhes apresentar um poeminha do Chico Alvim.

Mas
é limpinha.

Simples assim. Conciso, direto e brutal.
Mas eu lhes pergunto, do que trata esse poema? Sobre o que é essa poesia?
É certo que Chico Alvim não esteja falando de uma camisa, nem de uma mesa de jantar: “É mesa de jantar, mas é limpinha” - soa absurdo.

E se eu então lhes indagasse: “O que é “limpinha”?” - Ahh, é simples:

“É preta mas é limpinha”;
“É pobre mas é limpinha”;
“É puta mas é limpinha”.

Parece não haver outra resposta possível.
Entretanto, convenhamos, isso não está dito no poema? Chico Alvim não nos disse nada disso, você leitor é que deduziu por si próprio.
Não precisou ir muito longe pra descobrir sobre o que eu falava logo ali no começo: Algo que você tem, que você entende, mas que você vela... o preconceito.
Você não precisou ir longe para descobrir onde está o preconceito, ele está dentro de você, dentro de todos nós.

Mas vamos olhar um pouco mais para esse poema.
De quem será que o poema está falando? Certamente uma mulher (ela não é “limpinho”)
E mais, imagino que essa sentença se trate de um elogio uma vez que, APESAR de sua “condição” essa pessoa é “limpinha”, um elogio proferido por alguém “melhor”.

Agora lhes pergunto denovo: “Sobre o que fala esse poema?”
Sobre machismo e preconceito, sobre cada um de nós que temos esses valores arraigados em nossas mentes, em nossa memória, em nossa linguagem! (Quem nunca disse “mas é limpinha” alguma vez?)

E não seria exagero dizer que esse poema é como o dia internacional da mulher, o dia de hoje, essa homenagem à vocês que são mulheres, mas são limpinhas!

Não há nada para se comemorar, hoje é um dia de luto e um dia de luta.
Toda vez que se comemora o dia de alguma “minoria” é como se esse dia fosse uma concessão, um favor, como se fosse o “mas” do nosso poema presenteado pela “maioria branca e masculina e rica” para todos os pretos, pobres, putas, indios, velhos...

Hoje não é um dia para se comemorar...