segunda-feira, abril 18, 2005
Meu clichê, meu recalque
-E aí, tá aprovado? Foram quatro os guris queridíssimos que largaram os finais de semana por meia dúzia de músicas a serem apresentadas para mim. Há mês a coisa toda vem sendo organizada sendo que, apenas ontem, quase no último de todos os ensaios, nos conhecemos. E o pior é que coisas assim não cabem agradecimentos. E você me pergunta se tá aprovado, Randa. Vocês poderiam não diferenciar as notas e ainda assim eu seria lisonjeada por tanto capricho e dedicação. Eu realmente não sei onde cabe mais orgulho. Não sei como pode alguém se sentir mais querida do que eu me sinto agora. O mesmo tá ocorrendo aqui em casa. Nesse tempo todo, embora eu estivesse há uns quinhentos quilômetros e sem tempo de respirar fundo, o papai e a mamãe abraçaram a causa de maneira que eu me sinto convidada e não aniversariante. Meu bem dedicou longas horas de paciência para organizar as músicas. Andou procurando as melhores versões do melhor tempo dos melhores autores. Depois de tudo isso eu já me via honrada e meio sem jeito, me sentia como quem recebe muito elogio de uma só vez ou como quem acaba de ficar com vergonha e tem o coro "tá vermelha, tá vermelha, tá vermelha" atrás. Até que eu recebo isso:
1980 - 1989, A década que as pessoas de bom gosto não conseguem esquecer ou a década perdida?
Perdida pra quem, cara pálida? Só se for pra nossa seleção de futebol, que apesar de uma brilhante geração talhada para a glória, passou em branco nas Copas que disputou, apesar de ter jogado o mais bonito futebol que eu testemunhei, lá em 82. Mesmo assim, teria sido perdida uma década que nos presenteou com o Mengo do Zico a conquistar o Mundo, ou o Timão do Doutor Sócrates, do Casão, do Vladimir e do Ataliba, A Democracia Corinthiana?!
DEMOCRACIA... palavrinha com gosto estranho naquela época. Vivemos metade da década numa Ditadura (já não tão dura assim, é bem verdade, uma quase liberdade ma non troppo; ou amolecer, sin perder la linha dura), e a outra com o Sarney, algo difícil de entender e explicar às gerações futuras, mas aos 45 do segundo do tempo, ao apagar das luzes, conseguimos votar pra Presidente, alguns (como eu) aos 16 anos! Não conseguimos ver o Lula lá, mas o Muro caiu e o mundo andou.
Armações Ilimitadas pros adolescentes, alternando as sextas-feiras com Chico & Caetano, os Asdrúbals levaram seu trombone para a TV e a Piratearam, o Faustão tinha um programa bacana aos sábados à noite, o Velho Guerreiro levou as minhas bandas favoritas pro seu Cassino e apareceu o Rock! Ao menos pra mim, e cantado em português, um Banduende Por Acaso Estrelado e duas Meninas, só tem choop, ok, você venceu, Blitz, muito prazer! Foi a década do Renato, do Cazuza, do Nando ainda nos Titãs e dos Titãs ainda dignos do meu som.
Tivemos Rock! And Roll e In Rio, pra todos os gostos, enquanto lá fora os mega astros tentavam alimentar o mundo com "We Are The World" e "Band Aid", o Dylan cantou com o Richards like a rolling stone, Jagger cantou com Bowie e fizeram sua parte. Tivemos Roque, assim, com a grafia abrasileirada e Santeiro, parando o Brasil depois do Jornal Nacional e vencendo a censura, enquanto os Cruzados Novos cortavam zero e davam 5 anos pro Sarney, mas se voltarmos a falar de política, seria como aquela cobra mordendo o próprio rabo, esquecendo o mais importante.
O importante é que houve um um cara pra mostrar que em terra de cego, que tem um olho é rei, e o real significado de quem tem garrafa vazia pra vender, e esse cara, com sua cara metade, companheira e escudeira, nos deu a Maíra em 87. E esse Trio Perfeito, Rei, Rainha e Princesa do Castelo Mais Que Divertido, tem o dom de tornar mais alegres os dias de quem passa algumas horas com eles, como as intermináveis horas dessa festa, que não terminará nunca na memória de quem participou!
E eu nem sei como é que se deve regir numa ocasião dessa. Sinceramente eu não sei se existe alguma palavra mais intensa para agradecer ou demonstrar a minha surpresa, a minha felicidade e principalmente a minha satisfação com o papai do céu, por ser eu uma pessoa digna de tanta honraria. Talvez um dia alguém na mesma situação que eu encontre uma palavra, um dialeto ou uma expressão que aponte toda a intensidade necessária para os meus cumprimentos. Mas até lá, que eu viva a repetir "muito obrigada" e recalcar que todos vocês são marcas doces na minha vida.
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