segunda-feira, julho 25, 2005
Isso. E não se fala mais nisso.
Ah sim. Eram só dezesseis. Tinha dezesseis, corpo de quinze, e olhos de dez. Só dez. Dez daqueles que brilham de vontade, choram de medo e explodem de alegria. E nem sabia fingir desespero ou tapear a agonia. Acho. Dezesseis, dezesseis, dezesseis e uma eleição para presidente. Eu não precisava da discussão na fila, da correria dos documentos, da discussão nos documentos e nem da correria da fila. Não precisava das três horas de atraso e das três horas de espera. Eu só queria e esse querer me fazia sentir gente. Gente grande daquelas que apertam “13” e “confirmar”. Daquelas que sorriem “eu votei” e dizem “eu sorri”. Ainda que fossem sós, meus dezesseis. Acho que a minha ansiedade toda por votar era por essa admiração da geração de rua, das reivindicações, das caras pintadas e do hino na ponta da língua. Só mais uma fantasia de ser como eles foram e ter a capacidade pueril de crer que um sim me inspiraria e me levaria pequenina e calmamente mais perto do meu sonho. Como se mudar tudo isso fosse o meu sonho. Ali, numa fila desesperada pela multa que o descumprimento da obrigatoriedade do voto causaria, eu era quase singular entre tantos dos dezoito preocupados. Eu e a estrelinha vermelha quase gasta de tanto modismo e brilhosa de tanta procura. E não é que me perguntaram se eu estou feliz? Se eu, que cantava lulalá, que discutia providências e previdências, estou feliz? Ah não. Não, porque é como se uma parte minha tivesse que mudar drasticamente. Doloridamente. Uma parte quase tola ou quase infantil, sabe? Como quem arranca a barba do Papai Noel, ou descobre a farinha nas pegadas do coelhinho. E mais nada. Um vazio, uma decepção fora de hora. Precoce demais, eu diria. É sim. São só dezenove. Insistiram ainda se eu voto na reeleição. . . . surda.cega.calejada. eu confesso que melhor seria o Lula lá. Bem lá.
E um tango argentino. (Um para frente, dois, três e quatro, para trás)
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