terça-feira, maio 24, 2005
Retrato falado
Ela não sabe se a coisa toda fluiu, se esgotou ou se envaideceu. Não sabe se fugiu dela ou se foi ela quem fugiu. Embebedada do alívio entalado e sufocante da sua garganta. Como quem vive de aspirar uma sensação ilusória mas confortável. Agora sim dorme sozinha. Não é obrigada a roçar os pés em ninguém e tampouco implorar que alguém apague as luzes. Ela apaga as luzes. Inventou que dorme às dez. Dorme às dez e acorda às seis, todos os dias, intuitivamente. Janta feijão, não fala de revoluções, de reformas e nem de política. Não lê, não responde, não pergunta e não rascunha uma palavra que não seja “fui”. Vive na ânsia, ganância de ser o que não sabe e saber do que não é. Vai indo, babe. Se é feliz? Ah sim, sim. Tudo dentro do planejado e remontado objetivo de crescer. Tudo caminhando à normalidade. Tudo caminhando na maneira mais longa e certeira de ser ser. Não sei se ela volta aqui. E blá blá blá...
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