terça-feira, julho 26, 2005
Conselho
Que me escorra, que me sangre, que me corte ou que me faça gozar. Quero o núcleo maldito da explicação das coisas. Não quero definições, nomenclaturas ou artigos mal colocados. Quero o néctar. O sumo. O suco. Quero arrebentar o tecido e sorver o invisível. O vício. A necessidade. O cúmulo. Quero que me prenda, me condene e me culpe. É isso. Quero o mais puro ódio dos vencidos e a mais ingênua angústia dos descabidos. Quero a incoerência das coisas e desespero dos amantes. A tristeza, se ela for o que me repele dos preconceitos. Não quero o morno. Não quero o óbvio. Quero o cenário fúnebre e mórbido de todos os achismos. Não quero o cabível e o aceitável. Quero a verdade dolorida e precisa de abismos. Que me doa, que me agarre, que me morda ou que me faça chorar. Quero o lábio ferido das bocas das putas. Quero o gelo. O sal. O doce. O arrependimento das meninas mudas. A máscara de todos atores e a dor de todos errantes. Quero a insanidade da mentira. Sem locuções. Sem maquiagem. Quero arrematar tua costura frouxa e arrebatar os pontos perdidos. Quero a gordura do peso excessivo e a cicatriz da ferida nociva. A vida. A nudez. O despir de todos os issos, Ou o despedir de todos meus vícios.
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