Porque é aqui que há de nascer
e gerar frutos a minha e a sua eterna
ignorância. Aqui que há de encontrar a
vitalidade e o sustento máximo para a
sua loucura. Aqui vive, agoniza, mas não
morre o nosso egoísmo e a nossa faceta
que imprime necessidades.
Três vivas e saudações ao seu umbigo.

domingo, dezembro 22, 2002

Sabe aquela poetisa que morava em mim, num espaço pequenino, mas que ainda assim me cutucava constantemente? Sabe?
Aquela, que me fazia perder o controle, falar palavrão, chutar palavras como quem age por instinto...
Fazia-me cuspir na cara de qualquer um...
A mesma que me dava a liberdade de deglutir e vomitar, de mentir, de fingir...
De ter raiva, de ter tesão, de ter ódio, de ter ingratidão...
Sabe aquela sensação boa que me dava um impulso para escrever?
Aquela história da emoção?
Da liberdade...
Lembra?
Foi embora. Fez as malas, esvaziou as gavetas e limpou todo o armário. Foi-se.
Me deixou aqui numa vida amargurada de críticas e textos fracos. Numa rotina sem sal e irônica, de erros, erros e auto-cobranças sufocantes.
Eu e eu. A Laura. A Laura parou no caminho, não soube se ia ou se ficava.
Boa menina a Laura, age com o coração depois que costura a cabeça no pecoço. Pensante essa minha.
Mas eu me vejo numa sarjeta depois de um porre, nas lembranças melancólicas de uma ressaca.
Traiu-me e foi embora de um jeito estranhamente silencioso.
Saí para comprar cigarros.
Nem isso a desgraçada me deixou. Levou consigo o meu apreço a esse prazer.
Apaixonada, sim, eu estou.
E abandonada também.
Abandonada por uma parte sentimental minha que já estava aconchegada aqui.
Sei que é o meu velho fiel. Faça chuva faça sol, meu arcaico Medo me acompanha e manda embora essa minha esporádica hóspede feliz.