Porque é aqui que há de nascer
e gerar frutos a minha e a sua eterna
ignorância. Aqui que há de encontrar a
vitalidade e o sustento máximo para a
sua loucura. Aqui vive, agoniza, mas não
morre o nosso egoísmo e a nossa faceta
que imprime necessidades.
Três vivas e saudações ao seu umbigo.

domingo, outubro 20, 2002

RECADO DE MADRUGADA

Fui comprar cigarro. Volto logo.

(Eu estou indo alí, na mesma direção. Não vou mudar meu caminho. Não dá. Não quero.
Estou parando pra um café; sentada sozinha, numa mesa para dois, descansando os pés que andaram alguns quilômetros esburacados.
Eu te alcanço depois, não preciso de companhia para uma bebida amarga e fria que decidi tomar maldosamente porque precisava apenas da cadeira.
Poderia continuar andando, mas notaria bolhas nos pés e a cicatrização das mesmas seria algo dolorido e sofredor.
Vai meu anjinho. Estou logo atrás de você, até quando você mudar de rua.
A boa memória de poema de Pessoa, as notas agudas e graves, os altos e baixos e tudo mais que esperamos e enfrentamos. A boa e velha lembrança de resquícios fortes de felicidade. Embalados pra presente.
O café. Parei nele.
Vou te rever quando meus pés forem capazes de caminhar tantos outros desagradáveis (e esburacados) e voltar para a casa.
Não te troco por café. Te procuro na certeza que o sabor não será doce e enjoativo.
Nem amargo.
Que a saudade seja um impulso de aproximação, caso tenhamos mais páginas a acrescentar.
Que a saudade seja a borracha e o ponto final, caso tenhamos, o mesmo. E boas lembranças com um sabor inexplicável de amoras.
Não me espere para o jantar.
E não enterre os nossos segredos. Vamos ver se conseguimos mantê-los e acreditá-los desde o primeiro).

Lembranças, a sua.